No texto utilizado para absolvição em nossa liturgia de hoje (Rm 5.1-11), Paulo, o apóstolo registrou: Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. A versão NTLH não usa o termo justificação, o substitui por aceitação. Então lemos assim: Agora que fomos aceitos por Deus pela nossa fé nele, temos paz com ele por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. Ser justificado é o mesmo que ser aceito. Este texto deixa claro que Deus ama as pessoas sem olhar seus méritos. Ele aceita gente imperfeita, culpada, pecadora. Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuva sobre justos e injustos; pois Ele é benigno até para com os ingratos e maus (Mateus 5.45 e Lucas 6.35). Deus abre os braços em Jesus Cristo e acolhe a todos e a todas. O resultado desta aceitação é a paz com Deus. Eu pergunto: Será que temos necessidade disso? De ter paz com Deus?
Vivemos num mundo de violência e caos. A palavra PAZ aparece em cartazes carregados em passeatas de protestos. Desejamos muita paz aos amigos e às amigas por ocasião do início de cada novo ano. Oxalá viver em paz! Ou será que a paz não passa de uma ficção, de um sonho utópico. Bonita, mas irreal, inalcançável! E a paz com Deus? O que significa ter paz com Deus? Se o apóstolo Paulo nos falasse de como fazer paz nesse nosso mundo, no nosso tão lindo Brasil, em nossas famílias, em nossas relações, ele estaria atendendo uma demanda urgente.
Podemos até questionar: Por acaso sou eu um inimigo de Deus? Quando foi que briguei com ele para fazer as pazes? Muito pelo contrário! Eu confio em Deus, e mesmo que às vezes ando esquecido dos meus compromissos para com Ele, não tenho raiva de Deus! Eu me dirijo em oração a ele, invocando-o: Pai Nosso! Por que Deus deveria fazer as pazes comigo, se eu não briguei com ele, se eu não odeio Deus? Inimigos de Deus são pessoas que desrespeitam a vontade d’Ele, que não se importam com ele, que colocam seus interesses particulares acima dos interesses de Deus, que se omitem, que cruzam os braços e pensam somente em si próprias, que não buscam a justiça d’Ele e que consideram Deus supérfluo ou até um estorvo.
Numa palavra, todos nós somos inimigos de Deus e precisamos fazer as pazes com ele, precisamos da sua aceitação, do seu perdão. João, em sua primeira carta (1.8-10), lembra-nos de quem somos: Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo (Deus) mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Existe uma inimizade a vencer, uma reconciliação a celebrar, paz por fazer.
É disto que Paulo fala em Romanos 5. Deus fez paz com seus inimigos, fez paz conosco. Não se vingou naqueles que mataram Jesus. Não acabou com os criminosos que desprezaram sua vontade e autoridade e que ficaram em dívidas com ele. Ofereceu e oferece a todos e a todas seu perdão, sua paz, sua graça; também a nós que tantas vezes agimos à semelhança dos adversários de Jesus naquele tempo.
Jesus não morreu por pessoas justas, boas, pessoas que obedecem às leis. Ele morreu por pessoas indignas. Ele não morreu por amigos. Morreu por inimigos. Morreu perdoando a seus carrascos, sacrificando-se em favor dos inimigos de Deus. Isto muda tudo. Tudo passa a ser diferente. Pois se Deus é nosso amigo, não há nada mais que possa nos causar medo. Paz com Deus! Parece pouco! Parece coisa sem importância! Mas é essencial para que haja paz na terra, para que construamos um mundo e uma sociedade que desfrute de paz. Busquemos esta paz com Deus todos os dias de nossas vidas.
Reverendo Jorge Diniz