“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei DESCANSO”
Retornei à rotina no último domingo após 20 dias de descanso; não apenas férias, mas encontros com meus filhos, com minha família, com amigos, com lugares extraordinários, com a criação, comigo mesmo e com Deus. Muitos encontros que proporcionaram-me uma transgressão do ritmo cotidiano para um verdadeiro reencontro com Jesus. Me refiz, fui refeito!
Todo esforço precisa de descanso, toda atividade pede uma parada. Não há tensão que não exija um relaxamento, nem atividade continuada que não peça uma recreação. Precisamos de paradas que nos proporcionem um retorno ao contemplativo, a uma reconsideração, uma auto avaliação; do contrário perderemos a vida e desperdiçaremos sua beleza.
No descanso descobri a humanidade, minha predisposição pessoal e a recuperação de um ritmo de vida mais humanizante. Descobri o sentido da gratuidade das nossas atividades, o que melhoram a vida e a convivência. Oportunidade de recuperar nosso lugar e nossa condição humana, de voltamos a pisar a terra (húmus – humildade) para recuperar uma relação desinteressada e sadia com os outros, com o mundo e com Deus.
Para Jesus as palavras “repouso” e “descanso” têm um sentido próprio. Jesus não é presença cansativa, pesada, impositiva; ao contrário, ao entrar em comunhão com aqueles que suportam o fardo da opressão política e religiosa, Jesus os pacifica e os harmoniza. O “jugo” de Jesus é o amor, que não pesa; e seu “fardo” não trava a vida e se expressa no serviço aos outros. Não é o fardo da obrigação, mas o da liberdade. O descanso é o melhor em Jesus, o prazer da vida, a graciosidade da misericórdia, a celebração da sua presença no meio dos excluídos. O descanso de Jesus é sua presença pacificadora e acolhedora. Eis que o descanso d’Ele se abre como oferta: “eu vos darei descanso”. Trata-se de um descanso tão amplo que podemos entrar nele. Ele nos envolve, nos atrai, nos inunda e enche-nos com a sua bênção. Em Jesus o descanso não é um simples reabastecimento, mas uma regeneração na qual se recompõe a interioridade humana, o espírito criativo, a disposição de coração.
O lugar comum, o repetitivamente particular, a rotina normótica (normose refere-se aos comportamentos normais de uma sociedade que causam sofrimento e morte); nos esgota. A dinâmica repetitiva e suas limitações vicia nosso juízo, diminui nossa visão objetiva, mata a criatividade, apaga o entusiasmo criador e a inspiração, que são vitais.
O descanso é uma dimensão da vida que reflete nossa condição de filhos e filhas de Deus, seguidores de Jesus. Realça quem somos nós, o que são os outros, e a primazia de Deus em nós. N’Ele, em Jesus, descobrimos mundos novos e visões diferentes. Temos acesso a outras situações, a outros ambientes, a outras maneiras de conceber a vida, a outras referências, outros pontos de vista. Assim descansando, nossa identidade desenvolve-se quando acolhemos o diferente e nos abrimos ao novo. Desarmados de nossos pré-conceitos o descanso nos faz celebrar diante da realidade que sempre nos surpreende.
O descanso é uma forma de relacionamento com Cristo, um momento privilegiado no qual cultivamos os valores da gratuidade, a alegria de fazer-se presente, o sabor da comunhão que realiza o maior prazer, o prazer de conviver, desfrutar com os outros as pequenas coisas, o serviço mútuo, a simplicidade, a sensibilidade e a serenidade.
“Diga-me como você descansa e eu lhe direi como você trabalha e trata os outros”. Muitas vezes os outros são obrigados a pagar a fatura do nosso cansaço, do nosso ativismo. Tornamo-nos “cansativos”. Nossa presença deve pacificar ambientes e harmonizar pessoas!
Reverendo Jorge Diniz