Após entrar na cidade de Jerusalém e ser recebido nos braços do povo, Jesus é questionado pelos escribas e fariseus: “Com que autoridade faz isto?”. O Mestre respondeu dizendo que eles não haviam entendido a mensagem de João Batista e, por conseguinte, não creram em suas palavras. E disse mais: “Cobradores de impostos e prostitutas entram antes de vocês no reino de Deus”. Em seguida propôs-lhes uma parábola.
Jesus comparou o reino dos céus, o qual cobradores de impostos e prostitutas antecedem aos religiosos, com a história de certo rei que celebrou o casamento de seu filho e enviou seus servos a convidar pessoas de seu interesse para a festa. Mas os convidados não quiseram ir. O rei, então, enviou outros servos dizendo que a festa seria boa, com mesa farta e tudo mais. “Venham às bodas”, convidou o rei. Mas os convidados fizeram pouco caso da celebração do rei, desculpando-se por estarem atarefados. Houve ainda convidados que ultrajaram e mataram alguns servos do rei. Irado, o rei determinou a morte daqueles convidados. Pois, “os convidados não eram dignos” daquela celebração.
Então, o rei envia seus servos para convidar quaisquer pessoas que encontrassem pelo caminho. Assim, a festa nupcial ficou cheia de convidados com todos os tipos de pessoas, “tanto maus quanto bons”. A festa corria bem até que o rei avistou um homem que não trajava vestes adequadas para aquela festa. “Amigo, como entrou aqui, não tendo veste nupcial?”. Sem palavras para se justificar diante daquela acusação, ele foi posto para fora da festa mediante a ordem do rei: “Amarrem-no pelos pés e mãos, levem-no, e lancem-no nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”.
As bodas, os convidados, as vestes equivocadas e a ira do rei contra aquele convidado, segundo as palavras de Jesus, apontam-nos características do reino dos céus. Mas quais seriam elas?
As bodas claramente simbolizam o casamento do Cristo com a Igreja. Os primeiros convidados simbolizam os que, mesmo sendo familiarizados com o rei, não quiseram ouvir e responder às Boas Novas do reino. Os últimos convidados são todos aqueles, meros desconhecidos, gente pecadora (“tanto maus quanto bons”), marginalizados de toda a espécie.
As vestes impróprias, por sua vez, possuem muitos elementos simbólicos. Na tradição talmúdica, as vestes simbolizavam o cumprimento das 613 exigências da Torá, isto é, a observância total da Lei Mosaica. Entretanto, em sua parábola Jesus denuncia que tal veste – aqui, a religiosidade dos escribas e fariseus de sua época -, é um impedimento ao seu anúncio da Graça. Na mesa do banquete não há lugar para pessoas que buscam justificação pela Lei. Pela Lei, nenhuma pessoa é justificada (Rm 3.20). Sola Gratia!
Não há nada que façamos que nos torne merecedores de um lugar à mesa do Senhor. No reino proposto e inaugurado por Jesus, Deus é o anfitrião (Salmo 23) que convida-nos e nos recebe para com ele festejar o casamento de Seu Filho Jesus com Sua Noiva, a Igreja. E neste casamento, há assento à mesa para todos que não se prendem a nenhum tipo de religiosidade vazia da Graça.
Através da parábola proposta por Jesus, podemos concluir que no reino de Deus, que “já” é presente, “mas ainda não” em sua forma plena, a Igreja simboliza a cada Eucaristia um sinal do reino vindouro: pessoas que não eram comuns às promessas de Deus (gentios), agora fazem parte da grande festa, tendo lugar à mesa do Senhor. A eucaristia é verdadeiramente celebrada quando não há exclusão de quaisquer convidados por não serem membros arrolados ou não pertencentes a uma denominação específica, ou ainda mesmo por serem pecadores. Afinal de contas, é pela Graça que somos convidados a comer com Jesus e seus pecadores.
Licenciado Felipe Costa