No último domingo, na ocasião do culto vespertino, o Rev Cláudio, convidado da Segunda Igreja a pregar na comemoração do dia Nacional da Consciência Negra, perguntou: “todos falam dos 6 milhões de judeus mortos na segunda guerra; quantos negros morreram pelo tráfico de escravos?”
Uma rápida pesquisa (wikipedia, termo “comércio atlântico de escravos”) mostra que as estatísticas variam, por diversas razões, mas a resposta é entre 2 e 4 milhões de pessoas sequestradas morreram nos séculos que durou o tráfico internacional, de um total calculado de 12 milhões de “passageiros”. Fome, doenças, maus tratos, assassinatos e suicídios eram as causas mais comuns.
Comércio executado por pessoas nominalmente cristãs, que celebravam o natal com suas famílias… apoiado por políticos nominalmente cristãos, que invocavam Deus no início dos trabalhos… fonte de lucros para um sistema econômico surgido no seio de países culturalmente cristãos… Fruto de uma época? A cegueira sobre o mal que faço ao meu próprio pode ser creditada a incapacidade de vê-lo?
Hoje, no Projeto “Quem tem medo de bicho papão”, conversamos sobre transgêneros. Conversamos sobre diversidade sexual e sobre o sofrimento que este assunto traz para estas pessoas. Sofrimento que não se limita ao emocional, mas tem frentes bem físicas: o Brasil é apontado como o país que mais mata travestis; a população trans não tem o mesmo acesso ao SUS que a não trans (chamada de população cis). Algumas perguntas são incômodas: qual a expectativa de vida de um homem trans (pessoa que nasceu como do sexo feminino mas que nunca se sentiu como tal, e vive como as pessoas que nasceram do sexo masculino vivem) se ele for preso? Quais as chances de emprego de uma pessoa trans se ela tornar pública esta situação? Como você se comporta ao ver uma identidade com nome masculino ser apresentada por uma pessoa visualmente do sexo feminino?
A vida humana, do ponto de vista das Escrituras Sagradas, deve ser preservada, protegida, estimulada, cuidada. Não importa qual vida humana. Não há distinção entre o cristão e o não cristão, entre o criminoso e o não criminoso, entre homem e mulher, entre homens trans e mulheres trans, entre homossexuais femininos e masculinos, entre brancos e negros e índios e asiáticos…
O Serviço Assistencial Dorcas (SADO) é um instrumento de busca por justiça social através do qual todas as pessoas cristãs interessadas podem, em conjunto, buscar esta promoção. E o desafio de hoje é o tratamento legal, social, afetivo para uma parcela de pessoas que sofrem nossa incapacidade de ver a sua dor. Pessoas amadas por Deus de igual modo, e de igual modo por Ele também eleitas à salvação sem deixarem de ser o que são.