As pessoas transexuais são aquelas que não conseguem se perceber como sendo do sexo com que nasceram. Por alguma razão, em algum momento de suas vidas (pode ser na infância, na adolescência, no início da vida adulta ou mesmo na velhice), elas não conseguem viver de modo saudável com a definição de homem ou mulher atribuídas a elas logo após o parto. Por que isto acontece? Não se sabe… mas acontece, e não é de hoje: Herculine Barbin conseguiu, em 1860, mudar seu nome legal para Abel, na França. Por puro capricho? Não. Foi fácil? Não. Abel, como passou a ser legalmente reconhecido, suicidou-se aos 30 anos de idade.
Parece novela mexicana, mas não é. Parece algo esquisito que ocorre em países distantes, mas não é. Ocorre no Brasil, em qualquer lugar. Pessoas com esta dificuldade enfrentam um sofrimento desconhecido pela maior parte da população. Como continuar a fingir que sou Antônio, quando na realidade sou Rita? Não tenho o direito à felicidade? Não tenho direito à saúde e ao emprego?
Somente nas últimas décadas este problema passou a ser reconhecido como um problema que a sociedade precisa discutir e enfrentar. Se não fossem suficientes as questões pessoais, os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais… pastores) não têm conhecimento suficiente para auxiliar, nas suas competências, as pessoas transgêneras. E elas sabem disso… e sabem que, se chegarem com uma identidade feminina com um corpo masculino, ou com uma identidade masculina com um corpo feminino, serão objeto de curiosidade e comentário – fora o desconforto de serem chamada(o)s publicamente por um nome em desacordo com sua aparência física. E se tornam brasileiros e brasileiras sem condições de exercerem o direito à saúde nas mesmas condições dos demais.
Vamos discutir este assunto?