Sendo Jesus ser humano igual a todos nós, no passado, no presente e no futuro, é necessário admitir que, na teoria, Ele poderia ter pecado. Enquanto miraculosamente concebido, nasceu sem a culpa herdada de nossos pais. Enquanto completo ser humano, poderia ter caído.
Será que a natureza divina de Jesus o protegeu? É uma possibilidade a considerar. Analisando os dois grandes momentos de tentação, a no deserto (após 40 dias de jejum sozinho) e na paixão, não há nenhuma revelação de que Sua vitória se deu pelos méritos divinos. Pelo contrário, os dois textos deixam bem clara sua humanidade e os recursos que utilizou. Dentre estes, o principal foi uma absoluta e incondicional obediência ao Pai – atitude que o conduziu por uma vida de dificuldades várias (pobreza, solidão, dor).
As Escrituras revelam que, apesar da possibilidade teórica de cair em pecado, Jesus venceu – não pecou em nenhum momento. Não pecou quando cogitou nas propostas de Satanás (Mt 4); não pecou quando perdeu a paciência com os vendedores no templo e os expulsou com chicote (Mt 21.12-17); não pecou quando atrasou propositalmente sua ida a Betânia, de modo que somente chegou lá quando a família de Seu amigo Lázaro já chorava sua morte (Jo 11); não pecou quando chamou os fariseus de “raça de víboras” (Mt 12.34; 23.33).
Como isto é possível? Pergunta que não é fácil responder, mas que serve de alerta para que, ao avaliar as atitudes do próximo, não sejamos rápidos demais em ver o pecado dele, e lentos para vermos o nosso. Pergunta que não é fácil, mas que levanta a questão que mesmos as atitudes duras que possamos adotar têm de serem vistas com um olhar mais abrangente. Contudo, é necessário lembrar a diferença que há entre Jesus e nós. Ele, sem pecado da raça humana inscrito no Seu corpo, na Sua alma, no Seu inconsciente; nós, com este pecado incrustado em nosso ser até a redenção final na ressurreição dos mortos!