”O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito.” João 3.8
Um encontro aconteceu, por um lado um dos principais entre os judeus, o fariseu Nicodemos e; por outro, o Mestre, o Messias, a encarnação do Sagrado, a Luz do mundo, o nazareno Jesus, o Salvador. Uma afirmação do fariseu: “Tu és Mestre vindo da parte de Deus!”; uma resposta do nazareno: “Se não renascer, não verá o Reino!”; outra pergunta do fariseu: “Como renascer sendo velho?” E o nazareno confronta: “o vento sopra incontrolavelmente!”.
Assim Jesus descreve a ação salvífica de Deus na humanidade. Como um incontrolável vento que não se é possível mensural seu alcance, aquele que não se deixa manipular, dominar, governar; aquele que não se conhece a origem nem o destino, que tem vontade própria, que comunica, se revela, se mostra, faz barulho, fala! Jesus lança mão de uma metáfora do que é indomável, invisível, poderoso – ora um tufão destruidor, ora uma brisa refrescante – para descrever a salvação por meio da ação do Espírito Santo com mobilidade, liberdade e dinamismo.
Ao longo da história da Igreja houve sempre o dogma de que só há uma Igreja verdadeira, e fora dela não há salvação, declaração de São Cipriano (séc. III), dentre vários outros que afirmaram nesta mesma direção. Mesmo contestada ferozmente pelos reformadores, esta declaração tenta dominar e se estabelecer na igreja de hoje. Independentemente de sua tradição (católica, protestante, histórica, evangélica, de missão, pentecostal, etc.), a igreja insiste em manter esta declaração como um de seus principais fundamentos. Manter um “dogma” insustentável. Sem pensar, sem refletir vai de encontro (vai contra) a esta e a outras declarações de Jesus Cristo.
O Espírito tem vontade própria e sopra onde quiser, não é dominado por ninguém nem por qualquer instituição; apenas age, faz o que tem que fazer, onde quiser fazer, como quiser fazer. Sem regras, sem normas ilumina trevas, faz sua voz proeminente diante de tantos altos ruídos ensurdecedores. Ninguém o controla, ninguém o manipula, ninguém conhece sua origem nem seu destino para dizer: Ele está ali ou acolá!
Resta-nos administrar grande incômodo como igreja cristã diante da possibilidade de tamanha liberdade da ação salvífica. Mas é inegável a necessidade de uma releitura fundamentada nas declarações e ações do Cristo sobre esta terra para que, como seus discípulos e discípulas, seus seguidores e seguidoras, trilhemos o mesmo caminho trilhado por Ele. Caminho de amor, perdão, acolhimento, busca da justiça e igualdade entre a humanidade, caminho de sofrimento e entrega pelo outro, caminho de salvação indomável de alcance insondável, que vai ao encontro do que é outro, do diferente alcançável pelo “indomável Vento do Espírito”, que sopra e transforma!
Reverendo Jorge Diniz