A carta de Tiago, irmão do Senhor, possui muitas recomendações práticas a respeito da fé cristã. Em suma, podemos dizer que Tiago se preocupava muito com o caráter prático da fé: “a fé, se não tiver obras, está completamente morta”. Esta preocupação de colocar a fé em prática rendeu a esta carta uma série de dificuldades de aceitação por parte da Igreja ao longo dos anos. Até mesmo entre os reformadores do século XVI.
Fato inegável é que as observações de Tiago estão em consonância com a mensagem dos profetas do Antigo Testamento e com as palavras de Jesus de Nazaré. A admoestação feita aos ricos demonstra isso. “Vossa riqueza apodreceu” e “vossas vestes estão carcomidas pelas traças”, afirma o capítulo 5. Não se trata apenas de uma simples denúncia contra aqueles que acumulam sem fim até que não sobre nada pra ninguém (Isaías 5.8). Tiago denuncia as injustiças feitas contra os trabalhadores: “Lembrais-vos de que o salário, do qual privastes os trabalhadores que ceifaram os vossos campos, clama, e os gritos dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.” (5.4).
A violência contra os trabalhadores é praticada no mundo por toda nossa história. No período feudal, os senhores feudais exploravam a mão-de-obra dos servos que pra eles trabalhavam. Com o renascimento do comércio, o surgimento da burguesia, o aumento de impostos e as pequenas revoltas dentro dos feudos, esse sistema foi enfraquecido e substituído pelo que chamamos de “capitalismo comercial”. Neste período iniciaram-se as Expansões Marítimas Europeias e a colonização do “Novo Mundo”. Tanto nas Américas e como na África, a mão-de-obra utilizada era a escrava; a lógica do novo sistema financeiro exigia uma redução de seu custo para maximizar o lucro. O trabalhador, escravizado, foi explorado até sua última gota de sangue.
Em nossos dias assistimos a novas violências sendo cometidas contra os trabalhadores. As recentes mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) demonstram que o interesse das camadas mais ricas de nossa sociedade impera sobre o direito do pobre que clama e grita. Em nome do fortalecimento da economia nacional, o necessitado é vendido “por um par de sapatos” (Amós 2.6).
Tiago afirma que os gritos dos trabalhadores chegaram aos ouvidos do Senhor. Deus não está desatento ao que acontece em nosso país. Os que vivem luxuosamente e se orgulham de sua riqueza enquanto o pobre sofre, terão sua paga; os que se alegram com o enfraquecimento dos direitos trabalhistas (v.5), terão que encarar Deus face a face. Porque o Senhor sabe que alguns subjugam os mais carentes de nossa sociedade provocando, assim, a morte e manutenção do estado de desigualdade. Conforme escreveu ainda Tiago, a religião verdadeira é aquela que promove o cuidado dos mais frágeis de nossa sociedade (Tiago 1.27), neste caso, os trabalhadores.
Licenciado Felipe Costa