No Antigo Testamento, parte progressiva da revelação de Deus ao ser humano, o povo de Israel desfrutou da ação benevolente do Senhor dando o necessário sustento pela colheita como cumprimento da aliança mosaica: boa colheita em resposta à obediência ao Senhor (Dt 28.1-5) e fome como resposta à desobediência (Dt 28.15 e 24). Nos dias de Davi existiu fome enviada, de forma pedagógica, por Deus (2Sm 21.1,14). O Salmo 65 foi escrito no final de uma dessas ocasiões, quando o pecado do povo fez Deus lhes tirar o sustento. Diante do perdão de Deus e da restauração do sustento, o povo agradece e louva ao Senhor.
Mas não com um louvor qualquer, o salmista descreve um louvor que expressa total dependência da graça divina. Davi inicia esta canção com a declaração de que o silêncio é um canto de louvor a Deus (v.1). Um silêncio que, em meio ao sofrimento, Davi aguardou a salvação do Senhor (Sl 62.1). Sofrer o dano em atitude correta, cuja dependência do Senhor grite em meio ao silêncio, é um modo de glorificar a Deus. O verdadeiro louvor brota do perdão que Deus concede aos pecadores. Davi confessa (v.3): “Os atos de iniquidade foram mais fortes do que eu”. Os pecados do povo era a razão do sofrimento dos israelitas. O salmista diz a Deus: “Tu perdoas nossas culpas”. Essa realidade é o motivo inicial da alegria (v.4): “Feliz é aquele a quem tu escolhes e aproximas a fim de habitar nos teus átrios”.
Em um segundo momento o louvor do povo expressa uma devoção diante da soberania de Deus. Diante do perdão o povo viu a reversão das forças da natureza que estavam servindo de punição. Dar ordens à natureza e ela obedecer é algo que demonstra uma soberania inigualável que somente Deus pode ter. À humanidade só resta admirar diante de tal poder e temer o Deus que age assim (v.5) “Tu nos respondes com feitos temíveis”. Tal temor deve levar, imediatamente, ao louvor e à devoção do Eterno Senhor, o Todo-Poderoso.
Dependendo da graça divina e exercendo uma devoção diante da soberania de Deus, necessário se faz declarar o que Deus está fazendo, é o que Davi registrou. Se um dos castigos previstos na aliança mosaica era a seca que gerava fome; Deus abençoa, agora, com a chuva (v.9): “Tu atentaste para a terra e a regaste”. A chuva leva à colheita abundante. Se Deus, antes, cortou a colheita dos agricultores e das suas famílias, agora ele a devolveu. Com a farta produção do cereal, Deus também lhes concedeu a vida. Uma bênção muito grande para ficar fora do louvor. Na verdade, a gratidão específica pelos feitos divinos em favor da humanidade é um dos elementos obrigatórios no louvor ao Eterno Senhor.
Quem pode ser impassível diante de tamanha graça? Quem pode cultuá-lo fria e mecanicamente depois de ser salvo pelo Filho que foi dado pelo Pai como sacrifício por nossos pecados? Quem seria ingrato a esse ponto? Se cultuamos com indiferença, é porque nos esquecemos do quanto dependemos de Deus, do perdão gratuito que nos foi concedido e de tudo o que Ele fez e faz por nós.
Reverendo Jorge Diniz