Após profetizar o início de um longo período de seca, ser alimentado por corvos, ressuscitar o filho da viúva que o acolhera em sua casa, denunciar o pecado do rei Acabe e enfrentar os profetas de Baal no monte Carmelo, o profeta Elias fugiu para um deserto próximo a cidade de Berseba para salvar sua própria vida. Ali pediu a morte. Ali também recebeu o cuidado de um anjo do Senhor. Depois partiu para o monte Horebe e escondeu-se numa caverna.
“Que fazes aqui, Elias?”, perguntou-lhe o Senhor. Elias estava cansado. Estava com medo. Sentia-se só no trabalho do Senhor. Não via em seus compatriotas o zelo pela aliança feita naquele mesmo monte Horebe nos dias de Moisés. Havia perdido a esperança que lhe deu coragem para denunciar o pecado de seu rei e de seu povo.
No entanto, Deus o chamou para fora da caverna onde próprio Senhor passava. Havia vento impetuoso que quebrava as rochas, havia um terremoto, havia ainda fogo, mas o Senhor não estava ali. Foi na brisa tranquila e suave, que o Senhor falou-lhe ao coração de maneira íntima, como um sussurro ao pé do ouvido. “Que fazes aqui, Elias?”, tornou a perguntar o Senhor. Elias narra novamente seu drama ao Senhor. Então, Deus lhe dá mais uma tarefa: “ungirás (Eliseu) profeta em seu lugar”.
Deus sempre levantou profetas para serem seus mensageiros no meio de seu povo. Com sua voz profética, eles denunciaram as injustiças, as distorções, denunciaram aquilo que não é do interesse comum, do bem comum, dos valores maiores da humanidade. Elias foi um desses profetas. Contudo, havia chegado o fim de seu serviço ao Senhor. Ele pede isso ao próprio Deus. Entretanto, o Senhor lhe confere uma última tarefa: prepare o seu sucessor, pois o meu trabalho ainda não chegou ao fim.
Como numa corrida de revezamento, onde um corredor passa para o outro o bastão ao término de seu percurso, o serviço do Senhor precisa ser repassado de geração em geração adiante. É necessário que a tradição de Deus, sua história com o povo, sua vontade, etc., seja seguida por todos que nos sucederão. Enquanto cristãos somos chamados a fazermos discípulos, que, por sua vez, farão discípulos também até a vinda completa do reino do Senhor.
Precisamos hoje olhar para nossas igrejas e refletir se temos preparado as próximas gerações de cristãos. Como temos ensinado, discipulado, vivido em comunidade e evangelizado – que não significa mero proselitismo. Somos responsáveis pela continuidade da história do relacionamento de Deus com seu povo. Somos herdeiros de tudo que nossos antepassados fizeram. Suas lutas, seus sonhos, seus sucessos e fracassos fazem parte de tudo que somos hoje enquanto Igreja de Cristo.
O bastão que nos foi passado está em nossas mãos. Como na corrida, existe o tempo de entrega-lo aos “nossos Eliseus”. Quando chegar esta hora, haveremos nos preparados para outro levar este bastão? A pergunta que Deus fez a Elias é também feita a nós: O que fazemos aqui?
Licenciado Felipe Costa