O mundo no qual vivemos não é perfeito, nem o será. Em certos momentos, ele parece ser cruel e o sofrimento nos invade de diversas maneiras, e por diversas razões. No interior do nosso coração temos a semente da ideia de que todo o sofrimento, seja ele qual for, é um castigo, uma penitência que estamos, de algum modo, pagando. Mas será que este pensamento tem base nas Escrituras Sagradas? Será que a Bíblia realmente ensina isto?
Alguns momentos da vida são consequência direta de escolhas realizadas e atitudes tomadas. E não é incomum que estas escolhas e atitudes não tenham sido nossas, mas de outros.
Em muitos países ser cristão é motivo de perseguição. Ou ter qualquer outra religião que seja diferente da oficial ou da mais comum naquela sociedade.
Em muitos países pregar o Evangelho é crime – às vezes passível de pena capital, para o pregador e/ou para o novo convertido. No nosso Brasil não é assim. Contudo, interiormente, rimos e desprezamos a divulgação de qualquer outra religião que não a nossa.
Doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a síndrome de imunodeficiência adquirida, são, habitualmente, vistas como a justa recompensa por um comportamento promíscuo, ou descuidado, ou imoral. E, assim sendo, nosso interior frequentemente brada nestas ocasiões “bem feito” ou “aqui se faz, aqui se paga”. E este pensamento inibe nossa participação em campanhas públicas de prevenção destas doenças que não sejam baseados no “não faça”. E, ao agirmos assim, indiretamente, colaboramos para o sofrimento de pessoas que não foram bem informadas, ou bem motivadas, a serem responsáveis e cuidadosas no exercício de sua sexualidade.
Sofremos com o sofrimento das pessoas amontoadas nos nossos presídios? Estejam elas condenadas ou ainda esperando, por meses ou anos, a decisão da justiça? Revolta-nos o sofrimento causado a elas pela noção pecaminosa que a pessoa condenada não tem direitos humanos básicos?
Sofrimento acompanha a espécie humana. Nosso relacionamento com este tema muito revela sobre nós mesmos, sobre nossa fé, sobre nossa maturidade espiritual.
Presbítero Eduardo R. Mundim