“Diga-me com quem andas, e eu te tirei quem és” é um ditado que caiu no gosto de todos (alguém sabe sua origem?) e que provoca em quem o escuta uma sensação de que é uma verdade evidente, inquestionável. Será?
Vamos aplicá-lo a Jesus. Segundo Ele seus adversários O viam na companhia de prostitutas e funcionários públicos corruptos (os publicanos); por alguma razão, por tomar vinho e participar de refeições públicas (na casa de fariseus e publicanos), alguns o tomavam por alcoólatra e comilão.
Como fica o ditado então?
Para piorar, Ele nos ordena que O tomemos como modelo em nossas ações e pensamentos…temos coragem?
É o dito completamente falso? O bom senso sugere que não – basta ver o comportamento de uma multidão enlouquecida, onde a loucura de todos faz um louco, e onde o somatório de loucuras individuais faz um grande agrupamento capaz de atos ilegais, cruéis, desumanos.
É completamente verdadeiro? Também não. Não só pela aplicação do mesmo à pessoa de Nosso Senhor, como pela análise cuidadosa de alguns fatos. Após a loucura passar, cada um que se comportou como desvairado volta a sua condição habitual, de normal. Os atos cometidos não são cancelados, mas não necessariamente ele/ela permanece louco.
Nossos juízos sobre o próximo têm que ser cuidadosos. É orientação bíblica que avaliemos as árvores por seus frutos, assim como é mandamento sermos prudentes e simples.
Podemos avaliar o deus honrado pelas pessoas através das ações delas? Pode nosso Deus ser conhecido por quem é nosso próximo através das nossas ações? Se Ele não pode ser conhecido pelas nossas atitudes ou omissões, o deus do outro pode?
A graça de Deus permite que Ele seja conhecido em primeiro lugar pela sua Autorrevelação, na Bíblia. É lá que Sua descrição é fornecida principalmente através do relato da Sua interação com uma humanidade caída, com um povo eleito rebelde, teimoso e cego, com uma Igreja imperfeita, imprudente, frequentemente limitada na compreensão da Sua vontade.
A graça de Deus permite que suas ações em favor de todos sejam percebidas através das nossas atitudes interpessoais, reforçando o que Ele revela sobre Si nas Escrituras.
Por isso damos tanta importância à coerência entre discurso e obra, à harmonia entre estes dois, mesmo quando estamos errados.
O ditado “diga-me quem você é e eu direi quem é o seu deus” é parcialmente verdadeiro, não?
Presb. Eduardo Ribeiro Mundim