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Abrir Sepulcros, Tocar e Desatar os Panos – João 11.1-44

Neste domingo iniciamos em nosso calendário litúrgico o segundo bloco de um tempo que chamamos de comum, um tempo que toda a cristandade é desafiada a viver o evangelho em todos os momentos da vida cotidiana. Pensando em vida, penso em relações, lugar onde adoecemos e onde experimentamos curas. Pensando em relações, penso em seguir o Mestre Jesus aprendendo com seu comportamento junto de seus amigos. João, o apóstolo, em seu livro biográfico sobre Jesus, no capítulo 11 do evangelho de João, relata um inusitado acontecimento: a ressurreição de Lázaro, um amigo de Jesus.

Um dos milagres mais conhecidos e citados pelos seguidores do Cristo, um evento com grandes lições. A primeira é que Jesus permite que Marta e Maria, bem como os amigos e familiares, passem por momentos de muita dor e sofrimento. Eles o chamam imediatamente, pois seu amigo Lázaro estava muito doente. Jesus não atende imediatamente, não larga tudo e vai, mas “demora” em sua missão. Sempre queremos que Deus nos atenda imediatamente e dentro de nossas expectativas. Nossa presa e nosso anseio prejudicam nosso relacionamento com Deus, a possibilidade de crescimento pessoal e o engrandecimento de Seu nome. Devemos nos lembrar que Ele é Deus, e nós, seus filhos e filhas. Devemos esperar n’Ele, aguardar confiantemente sua resposta e sua intervenção.

Um segundo aprendizado é que Deus não está longe de nós ao ponto de não podermos alcançá-lo. Marta e Maria mandaram chamá-lo e ele foi encontrado em bom tempo. Aprendamos com o salmista (Sl 145.18-19): Deus está sempre ao nosso alcance. Ele está bem perto de nós e podemos chamar por ele, e ele virá. Certamente virá!

Além de estar perto, de nos ouvir, Ele também se compadece de nós e de nossas dores. Ele chora conosco! Foi assim com as irmãs de Lázaro, e é assim conosco. Quando Jesus é chamado, Ele é empático, sente o que sentimos, é como se Ele estivesse na mesma situação, Ele vivencia nossas dores, as compreende juntamente com nossos sentimentos e emoções, e faz muito mais, Ele intervém, faz o milagre: Ele deu a ordem e Lázaro ressuscitou. Deus sempre age em nosso favor – sempre! Mesmo quando não reconhecemos isto.

Na história de Lázaro, Jesus também pede algo: Lázaro precisou da ajuda de alguns amigos para libertá-lo de seu estado de morte. Jesus pediu que abrissem o túmulo. Somente os verdadeiros discípulos/as de Jesus têm a coragem de abrir túmulos com seus amigos e ver gente “morta” dentro. Mas sob a ordem de Jesus nós fazemos, e o milagre acontece. Para percebermos o poder de Deus devemos estar ali, perto de Jesus. Longe de Jesus não há como presenciar milagres. Abrir túmulos é abrir caminho para outros, é deixar a luz entrar, é ser sal e luz na existência humana.

Novamente outro pedido de Jesus, agora é solicitado que se toque naquele que acabou de sair de um túmulo: desate o morto e deixe-o ir. Lázaro sai todo enrolado nos panos de seu sepultamento, sem condição de andar e retornar à vida. Ele sozinho nunca iria sair da condição de morto, pois estava preso a ele mesmo. Ele precisava de amigos para desatá-lo para que pudesse retornar à vida. Por causa da fé daqueles amigos, Lázaro viveu. Desatar os mortos que acabaram de reviver é uma tarefa árdua, porém muito satisfatória. É ensiná-los a andar no Caminho. É cumprir a missão de Deus. É fazê-los compreender o que aconteceu com eles. É abrir-lhes os olhos para que vejam a preciosidade da vida. Estavam mortos, e agora precisam aprender a viver.

Somos chamados para abrir sepulcros, tocar e desatar os panos.

Reverendo Jorge Diniz

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